A Câmara Setorial da Cadeia Produtiva de Culturas de Inverno realizou, nesta segunda-feira, 19, uma reunião extraordinária com o intuito de discutir sobre o trigo geneticamente modificado, assunto que será tema de Audiência Pública na Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) no próximo dia 22. A reunião contou com a presença do presidente da Associação das Empresas Cerealistas do Estado do Rio Grande do Sul (ACERGS), Roges Pagnussat, e do secretário-executivo, Alceu Menegol, bem como do vice-presidente da ACEBRA, Vicente Barbiero, titular da entidade nesta Câmara.
Luis Rangel, da Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), falou sobre a importância de discutir o assunto dentro da cadeia, e pontuou que, mesmo sendo um desafio altamente complexo, o Mapa sabe bem lidar com tais situações, uma vez que já atua há mais de 20 anos com produtos transgênicos. Rangel ressaltou que é preciso tomar as decisões no momento e no ambiente corretos, e que, após discussões e profunda análise de conveniência e oportunidade, será do Ministério a decisão final sobre a entrada ou não do trigo geneticamente modificado no mercado brasileiro.
SETOR PRODUTIVO – Eduardo Elias Abrahim, consultor da Câmara, falou sobre o posicionamento dos produtores de trigo em Minas Gerais, favoráveis à implementação da transgenia no trigo, e pontuou, como técnico, que a referida tecnologia precisa ser validada, e esse processo de validação precisa continuar.
RECEBIMENTO – Vicente Barbiero, representante da ACEBRA e associado estadual da ACERGS, afirmou que as empresas cerealistas veem a transgenia como uma ferramenta aliada, e pontuou que, a exemplo da situação de estiagem no Rio Grande do Sul, uma cultivar mais resistente à seca seria benéfica para os produtores rurais. Barbiero ressaltou que a tecnologia virá para beneficiar quem produz, e que a única preocupação que a adoção desse mecanismo traz é com a segregação, no futuro. Sobre esse ponto, Barbiero reforçou ainda que o setor armazenador, onde está as cerealistas, espera não ser o responsável pela segregação ou identificação do trigo transgênico por ocasião do recebimento, como acontece atualmente com a soja. Paulo Pires, da Federação das Cooperativas Agropecuárias de Santa Catarina (Fecoagro), afirmou que a transgenia é um instrumento que permite aumentar a competitividade da cadeia, e que não se deve abrir mão do uso dessa tecnologia.
INDÚSTRIA – Eduardo Assêncio, da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), afirmou que não existe demanda do mercado para um cereal modificado, e que o consumidor anda muito atento com a saudabilidade do que consome. Assêncio pontuou que o mercado está receoso para qualquer novo organismo transgênico, e afirmou que 85% dos moinhos se posicionaram contra a medida, estando dispostos, inclusive, a suspenderem as compras do trigo argentino, caso o país adote a variedade. De acordo com ele, o trigo é responsável por 18% da base alimentar dos brasileiros, e que a modificação genética do grão seria um novo capítulo para a tecnologia. Assêncio frisou ainda que, desde 2004, quando a multinacional Monsanto lançou uma variedade de trigo transgênico, esta é apenas a segunda ação neste sentido, o que pode indicar que o mercado consumidor não vê a medida com bons olhos. Cláudio Zanão, da Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães & Bolos Industrializados (ABIMAPI), afirmou que o trigo transgênico poderá, no futuro, dar a autossuficiência ao país na produção do grão, mas que, no momento, a entidade se posiciona contra a tecnologia.
OBTENTORES – De acordo com Jefferson Costa, a Embrapa Trigo já tem uma posição, mas não comentará o assunto até a reunião da CTNBio.
O presidente da Câmara, Hamilton Jardim, afirmou que mais cedo ou mais tarde, “como todos sabem, a transgenia no trigo vai acontecer”. Jardim pontuou que o trigo brasileiro funciona bem sem a tecnologia, mas que é um problema quando se considera que o Brasil depende em 50% do trigo argentino, onde a nova modalidade pode ser aprovada em breve. Hamilton pontuou que confia piamente no ministério da Agricultura, membro do conselho de segurança da CTNBio, e afirmou que pretende ser o porta-voz do entendimento dos elos da cadeia na reunião da comissão, no próximo dia 22.
Texto: Marília Souza/ACEBRA