CÂMARA SETORIAL DISCUTE LANÇAMENTO DO FEIJÃO TRANSGÊNICO

Os membros da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Feijão e Pulses do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) se reuniram em reunião extraordinária nesta quarta-feira (10), em Brasília, para discutirem sobre a decisão da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) de lançar a variedade de Feijão Carioca Transgênico.

Roberto Queiroga, presidente da Câmara do Feijão

Na ocasião, o presidente da Câmara, Roberto Queiroga, questionou enfaticamente a equipe representante da Embrapa sobre as condições para o lançamento dessa nova cultivar de feijão carioca, e ressaltou que a Câmara Setorial  não foi consultada em nenhum momento sobre a inserção do novo produto no mercado brasileiro. Queiroga pontuou que o colegiado não é contra a nova variedade, mas afirmou que é preciso estudos consistentes que envolvam os diversos elos da cadeia, desde os produtores até o consumidor final.

Egon Schaden, consultor do CBFP

Egon Schaden, consultor do Conselho Brasileiro do Feijão (CBFP), apresentou um cronograma das reuniões em que o Conselho se reuniu com a diretoria da Embrapa, e pontuou que em nenhuma delas o lançamento do feijão transgênico foi informado.

Thiago Lívio, pesquisador da Embrapa, apresentou dados técnicos sobre a variedade a ser lançada, batizada de BRS FC 401 RMD ou Feijão Resistente ao Mosaico Dourado, doença provocada pela Mosca-Branca (Bemisia tabaci). Lívio afirmou que foram feitos estudos de biossegurança que atestaram que o feijão transgênico não oferece riscos à saúde humana nem animal.

Luiz Fava Júnior, produtor de feijão na região do Noroeste de Minas, ponderou que os produtores da cadeia têm outras prioridades no momento, e que, mais urgente que lançar um grão geneticamente modificado é a adoção de uma política de garantia de preços mínimos, e também que o governo passe a comprar feijão dos produtores rurais. Em seguida, a secretária executiva da Associação Brasileira da Indústria do Arroz (ABIARROZ), Andressa Silva, pontuou que o uso da transgenia poderá se tornar uma barreira para as exportações.

Marcelo Luders, presidente do IBRAFE

Marcelo Luders, presidente do Instituto Brasileiro do Feijão e Pulses (Ibrafe), ressaltou que o feijão carioca só é consumido no Brasil, e que as tentativas de exportá-lo foram infrutíferas. Luders afirmou que “a ideia é boa, mas o tempo é errado”, e que não existe no momento a necessidade de se preocupar com o aumento da produção para consumo nacional através da modificação genética do feijão.

Tiago Stefanello, presidente do CBFP

Tiago Stefanello, presidente do CBFP, afirmou que “o mercado é soberano. O mercado ergue e o mercado derruba”, e que é preciso ter cuidado com a inserção do novo produto para comercialização, uma vez que o feijão carioca só é produzido e consumido no Brasil. Não se exporta nem se importa feijão carioca.

Afrânio Migliari, representante do Sindicato Rural de Sorriso, pontuou que o mercado vegano deve ser considerado, uma vez que o estilo tem ganhado cada vez mais adeptos, e afirmou que o feijão transgênico, se lançado agora, pode trazer problemas para toda a cadeia produtiva.

Um documento indicativo será enviado à ministra da Agricultura, Tereza Cristina, solicitando o adiamento do lançamento da nova cultivar do feijão. Também será criado um grupo de trabalho para desenvolver estratégias de comunicação e gestão de crise. Durante toda a reunião, o presidente Roberto Queiroga ratificou que a Câmara não se posiciona contra a nova variedade, apenas que não considera adequado um lançamento sem estudos validadores, diálogos com todos os elos da cadeia produtiva e sem uma comunicação eficiente para a sociedade, que esclareça o que de fato é o produto. Queiroga ressaltou que a adoção de tais medidas podem evitar transtornos futuros para todo o setor, tanto no mercado interno quanto externo.