Câmara Setorial debate tendências do mercado e conjuntura do trigo

A terça-feira (24/07) foi marcada pela realização da 58ª reunião ordinária da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva de Culturas de Inverno, do Ministério da Agricultura (MAPA). Os participantes do colegiado trouxeram atualizações sobre a conjuntura do trigo em diversos estados e a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) apresentou as tendências do mercado nacional e internacional.

A Embrapa esteve presente na reunião, dando sequência a estratégia de integração com setor produtivo. Jefferson Costa, da Secretaria de Inteligência e Relações Estratégicas da empresa, apresentou para as entidades presentes os principais tópicos do estudo “Visão 2030 – O Futuro da Agricultura Brasileira”. Segundo Costa, a Embrapa tem sido criticada por ter se distanciado do setor produtivo e algumas das formas de se reaproximar é através da participação efetiva nas câmaras setoriais e temáticas do MAPA e munindo o setor com informações estratégicas. Ele justifica a importância do estudo para o crescimento da agricultura: “o mundo vai precisar de 35% a mais de alimentos até 2030. O espaço de tempo é curto e a quantidade de alimentos é grande”. Por isso, Costa vê na articulação dos setores público e privado a única alternativa para suprir as necessidades que surgirão.

Hamilton Jardim, presidente da Câmara, reconheceu a importância da destinação de recursos para a Embrapa para que desenvolva cada vez suas pesquisas, seja através do orçamento público, seja por meio de parcerias público-privadas. E ainda sugeriu que as próprias entidades que compõem o colegiado façam a divulgação do estudo “Visão 2030” para seus públicos. Ainda sobre o tema, Roberto Queiroga, diretor-executivo da ACEBRA, abordou o megatendência de convergência tecnológica ao campo, apontada no estudo, e lembrou “no campo a rastreabilidade já virou realidade. A Embrapa deve ajudar os produtores a identificar a necessidade de rastreabilidade, para permitir a verificação da qualidade do produto”. O chefe da Embrapa Cerrados, Cláudio Takao Karia, disse que o primeiro passo é desenhar o processo e estabelecer os pontos de checagem, desde a produção das sementes até o embarque no porto.

Rodrigo Souza, engenheiro agrícola da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), apresentou as Tendências do Mercado do Trigo, baseado no Relatório sobre oferta e demanda mundial publicado pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) e no levantamento da própria Companhia, ambos do mês de julho de 2018. De acordo com relatório, esta é a menor produção de trigo dos últimos três anos, fazendo com que o estoque mundial fique em 260 milhões de toneladas. Esse cenário se dá por causa da seca em países como Austrália, Rússia e Ucrânia.

No Brasil, os estados do Paraná e Rio Grande do Sul, responsáveis por 85% da produção nacional, já estão com o plantio praticamente encerrado. Os preços praticados estão acima do preço mínimo sugerido. A estimativa é de aumento de 4,9% na área semeada, estimada em dois milhões de hectares, resultando numa produção de 4,9 milhões de toneladas. Quanto à importação do trigo, em junho o Brasil importou 585 mil ton de trigo, sendo que a Argentina foi responsável por 84% desse montante. A menor disponibilidade de trigo argentino e a contínua redução nos preços internacionais ao longo do mês contribuíram para que houvesse uma maior diversificação da origem, fazendo com que Canadá, Paraguai, França e Uruguai figurassem entre os países que exportam o produto para cá.

Vicente Barbiero, presidente da ACERGS e representante da ACEBRA na Câmara, enfatizou que o colegiado precisa discutir a reformulação dos editais de prêmio da Conab, pois como estão não é possível que empresas cerealistas participarem. “A linguagem deve ser entendida por todos, ela deve deixar de ser uma linguagem técnica”. Vale lembrar que a Câmara já havia constituído um grupo de trabalho que sugeriu uma nova redação para os editais e o processo encontra-se na Secretaria de Políticas Agrícolas (SPA). Gustavo Firmo, da SPA/MAPA, comprometeu-se em verificar o andamento do pleito.

Luiz Carlos Caetano, da Associação Brasileira das Indústrias do Trigo (ABITRIGO), informou que a Associação está preparando o Plano Nacional do Trigo, que será apresentado para os candidatos à presidência da república em agosto. O Plano é composto de oito eixos, são eles: ambiente legal, produção, incentivos fiscais para moinhos, ambiente de negócio, comércio internacional, logística e infraestrutura, inovação e saudabilidade do produto.

Caetano também abordou a questão da regulação pela Anvisa dos limites da micotoxina DON (desoxinivalenol) para o trigo e seus derivados. A cadeia produtiva está preocupada com a inviabilidade do cumprimento dos limites que passarão a vigorar em janeiro de 2019, já que as pesquisas não estão acompanhando as exigências de redução feitas pela agência reguladora. Para acompanhar os limites de DON estabelecidos, há uma perda de até 10% do produto. Os membros da Câmara decidiram encaminhar um ofício para a Secretaria de Defesa Agropecuária (DAS/MAPA), solicitando o auxílio para a realização da reunião com a Anvisa e revisão da norma. O representante da ABITRIGO resaltou que “se houver algum problema de climático, não vai ser possível atingir os limites exigidos pela Anvisa”.

Os membros da Câmara também discutiram sobre a necessidade de criação de novos padrões de classificação do trigo e cogitaram a possibilidade de passar a usar o padrão interacional de classificação, o que já atenderia o exportador. O presidente da Câmara lembrou que foi demando da Embrapa Trigo um estudo sobre a classificação do produto. A Câmara irá convidar o Chefe-Geral da empresa, Osvaldo Vasconcellos, para participar da próxima reunião e explicar se já houve avanços no estudo. Outra providência que será tomada pelo colegiado é a criação de grupo de trabalho para estudar uma proposta de classificação e unificar o entendimento sobre o tema.

No encerramento da reunião, os participantes demonstraram preocupação com as indefinições sobre a nova política de preços para o frete de cargas. Houve um consenso sobre a inaplicabilidade dessa política.

A próxima reunião da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva de Culturas de Inverno ocorrerá no mês de outubro.

Conjuntura do trigo nos estados

Rio Grande do Sul:

  • 700 mil hectares plantados;
  • Com boa germinação;
  • Já na aplicação de nitrogenados e fungicidas;
  • Expectativa de produção: 2,3 milhões de ton.

Santa Catarina:

  • 60 mil hectares;
  • Estimativa de 160 mil toneladas;
  • O estado continua em 5º lugar nacional e declara a dificuldade devido ao alto custo de produção.

Paraná:

  • Plantio atrasado em 30 dias;
  • O norte do PR enfrenta seca e declara perda de 30% a 40% da produção;
  • Estimativa 3.3 milhões de ton e pode cair devido a seca;

Minas Gerais:

  • Colheita adiantada da safrinha;
  • Estima produção 220 mil ton, menor do que no ano anterior devido à seca.